Por Agnes G. Milley
Voltando um pouco no tempo, quero contar uma sucessão de episódios que me emocionaram bastante.
Tudo começou na quinta-feira antes do Natal. Fazia muito calor e decidimos procurar um ar fresco na rua. Fomos até a Lagoa para ver a Árvore. Paramos na beira da lagoa no trecho bem em frente à Igreja Santa Margarida Maria. A Árvore estava bonita como sempre, mas dessa vez a protagonista da noite não foi ela.
Minha netinha Mariana viu a água se mexer e perguntou ao pai:
“Aqui tem peixe ?” Logo em seguida pessoas a nosso lado começaram a chamar aflitas: “Olívia, Olívia.... aqui Olívia”. Foi muita comoção, choro e desespero. Aos poucos fomos entendendo que o movimento que Mariana vira na água era de um cachorro nadando com dificuldade.Olívia, a cachorra, era velha e cega. Por um momento de descuido da família, ela deu um passo em falso e mergulhou na água escura da lagoa. Gritos e correria se seguiram por alguns minutos até que uma jovem ligou do celular para alguém, explicando que a dona da cachorra estava passando mal e precisava de ajuda.
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“Chamem os bombeiros, chamem os bombeiros” era o que ouvíamos além das vozes aflitas da família que continuava a chamar por Olívia já engolida pela escuridão.
Não demorou muito e és que surge um barco todo branco engalanado com luzes vermelhas e azuis, tripulado por vários homens dispostos a achar a Olívia. Era o barco de apoio à Árvore. Ele circulou pela lagoa, lanternas piscaram, o mangue foi vasculhado, mas nada de Olívia.
Chegaram os bombeiros também . Alguns homens ficaram na margem, outros no manguezal e mais dois se juntaram aos do barco. Cada folha que caía, cada pio de ave ou batida de onda era um sopro de esperança. Confundia-se qualquer som com o possível gemido de Olívia cansada.
Os corredores, ginastas e ciclistas curiosos, aos poucos, se retiraram. Os que ficaram tentavam consolar os donos da cachorra. Mariana não perdia as esperanças. “Ela pode estar viva ainda”, murmurava baixinho e não quis vir embora até saber o desfecho da busca.
Subitamente, lá do meio da lagoa vieram gritos de vitória. Olívia estava viva. Os homens do barco ganharam o dia, a dona de Olívia ajoelhou-se abraçada a seu animalzinho e os agradecimentos e votos de Feliz Natal foram os mais sinceros e calorosos que eu jamais poderia imaginar. Olívia, agora de coleira, caminhava satisfeita, ignorante das emoções que acendera durante aquelas quase duas horas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyRBV_a7qf5WmLOvLJBOYDClKij-yxZKbm1jr80Gn6SFd4HdcCVyza6yALlSHL6L3ddDqj1ymqOiRz0KtYyRKOMk3Pg1kIVpmK82ReVPKs40XhTttmB_Y7Ozq47hZC_FzLUg-h2GPUT-g/s1600/imagesee.jpg)
Na manhã seguinte dei falta de minha carteira de dinheiro. Não consegui entender como alguém poderia ter me roubado na noite anterior. Mistério! Nenhum de nós três conseguiu lembrar-se de alguma situação que pudesse ter favorecido um batedor de carteira.
Telefonei para os bancos, cancelei meus cartões e fui à delegacia para registrar a perda de minha carteira de identidade e CPF. Já mais calma, em casa, atendi o telefone. Um voz rouca se identificou como dono da banca de jornal onde paramos na noite anterior para beber água.
Ele disse: “ Hoje cedo, quando abri a banca, achei uma carteira. Encontrei nela um cartão com esse telefone. A senhora é a dona Agnes? Se a carteira é sua pode vir buscá-la. Vou ficar aqui o dia todo. Um bom dia para a senhora”.
De fato foi um bom dia. Com a Olívia e minha carteira salvas eu só pude agradecer tamanha solidariedade quase nas vésperas do Natal.
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