Essa pergunta é muito frequente entre todos que começam a contar. Como saber qual história é adequada para cada faixa etária ou para situações especiais? Dizem os contadores experientes que nem somos nós que escolhemos a história, é ela que nos escolhe. Como assim? Ora, todas as histórias contém valores, conhecimento, e linguagens diferentes, e quando as lemos elas se oferecem a nós. Querem dar-se de presente. Se esses elementos nos são familiares e agradáveis , as histórias pulam das páginas dos livros e não nos deixam mais. Sonhamos com elas, sentimos vontade de partilhá-las. É assim que acontece, verdadeiramente.
Se queremos ter um repertório, um acervo, temos que ler muito. Outro dia mesmo, encontrei um livro de histórias de bichos - lendas folclóricas brasileiras selecionadas nos anos cinquenta. Entre quarenta e uma histórias apenas seis me escolheram. Em outro livro que li recentemente, de vinte e cinco somente três criaram afinidade comigo. As outras ficarão descansando nas páginas dos livros até encontrarem um dono. Precisamos de um número grande e variado de livros. Por isso é melhor procurarmos histórias em bibliotecas ou podemos comprar livros usados em sebos. Custam menos e às vezes encontramos verdadeiros tesouros entre livros rejeitados, empoeirados em velhas estantes.
Quando a história já é nossa e passamos a contá-la, ela se transforma em presente. Contar uma história é dar um presente para quem nos ouve. Quando queremos presentear alguém, pensamos em sua idade, no seu gosto, na sua personalidade, no seu modo de ser. Ficamos felizes quando nosso presente é recebido com alegria sincera. Costumamos até dizer: “Quando vi esta coisinha tão linda, pensei logo em você. Achei que tinha a sua cara”. É dessa mesma forma que decidimos o que contar. Se conhecemos nosso ouvinte, saberemos o que e quando contar.
Vamos, agora, ilustrar nossa conversa com uma pequena história, bem interessante. Talvez vocês já a conheçam.
As Três Peneiras
Um dia, alguém viu Sócrates e lhe disse:
“Sócrates, preciso te contar como o teu amigo se comportou.”
“Três peneiras? “ – disse o outro, tomado de espanto.
“Sim, meu bom amigo: três peneiras.Examinemos se o que tens a me dizer pode passar pelas três peneiras. A primeira é a verdade. Controlaste se o que queres me contar é verdadeiro?
“Não, ouvi dizer e ....
“Bem, bem. Mas por certo a fizeste passar pela segunda peneira. É a bondade. O que desejas me contar, embora não seja propriamente verdadeiro, é ao menos uma coisa boa?
Hesitante, o outro responde:
“Não, pelo contrário ....
“Hum! Diz o sábio. – Tentemos nos servir da terceira peneira e vejamos se é útil me contar o que queres me dizer ...
“Útil? Não exatamente.
“Pois bem – diz Sócrates sorrindo - , se o que tens a me dizer não é verdadeiro, nem bom, nem útil, prefiro não saber, e , quanto a ti, aconselho que o esqueças ...
Bem, esta historinha provavelmente se refere a uma “fofoca”, mas é bom que nossas histórias também passem por pelo menos duas peneiras: devem ser boas e úteis para valerem a pena ser contadas. Podem não ser verdadeiras, uma vez que histórias são quase sempre fantasias.
Amigos, vou me despedindo. Até a semana que vem com mais histórias.
Agnes G. milley
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