Tuesday, October 27, 2009

A ARTE DE LIDAR COM O TEMPO - entrevista

Quem é nossa entrevistada:
Alessandra Garcia Trindade - Mineira de Campo Belo, é pós-graduada em Responsabilidade Social e Terceiro Setor e atua como consultora cultural. Desenvolve projetos viabilizados por meio de patrocínios nas leis de incentivo que possibilitam o acesso da população de baixa renda às mais diversas áreas culturais como teatro, música, literatura, cinema, artes plásticas, entre outras.
Autora de alguns livros, escreveu: Mes
tre do tempo - um livro com depoimentos de pessoas que fizeram mais que viver: 25 pessoas acima de 80 anos, anônimas ou “famosas”, que vivem sua vida de uma maneira exemplar.

1 - O que a levou a escrever sobre exemplos de pessoas (mais idosas) que aproveitaram bem o tempo? Quem são e porque são mestres do tempo?

Quando pensei em escrever um livro quis escrever sobre algo que fizesse bem a mim (ao escrever) e que inspirasse às pessoas que estivessem lendo a buscarem algo melhor para suas vidas.
Optei por escrever sobre pessoas mais velhas e que estão ativas, fazendo coisas que acreditam, que gostam. Muitos deles se reinventando a cada momento, mesmo que estejam fazendo a mesma coisa durante toda a vida. Outros buscando coisas novas para fazer, mesmo que estejam com 80, 90 anos. Pesou muito sobre a minha decisão de escrever sobre os mais velhos o fato do Brasil não valorizar o idoso da maneira como ele deveria ser valorizado e também a minha experiência de ter convivido com meus avós quando eles já estavam bem velhos.
Os 25 mestres, a maioria deles com mais de 80 anos, foram escolhidos de forma que cada leitor possa se identificar com pelo menos um deles. São pessoas de várias partes do país (SP,RJ, MG, BA, TO, DF) e com atuações muito distintas: tem escritora, atriz, médicos, professora, palhaço, compositor, artista plástica, etc. Optei por entrevistar a maioria de desconhecidos (ao invés de colocar apenas pessoas “famosas”no livro) para que os leitores possam valorizar aqueles mestres que estão ao seu lado e que, muitas vezes, não são vistos como mestres, pessoas que têm muito a ensinar.

2 - Qual foi sua experiência mais agradável neste contato com os idosos que entrevistou?

Aprendi muito com todos os entrevistados. Não há como destacar uma ou outra entrevista. Todas me marcaram muito e com cada um deles aprendi algo que irá contribuir com a minha vida.
São pessoas muito diferentes entre si, e aí acho que aí está a beleza do livro. O mestre pode ser uma pessoa como a dona Raimunda, que nunca freqüentou a escola, mas que viajou até a China para defender as quebradeiras de coco no Norte do país. Ou o Sr. Benedito Sbano, que, mesmo tendo passado dos oitenta anos, continua se apresentando como o Palhaço Picoly e sempre buscando novas caretas e novas falas para suas apresentações. Ou a dona Ondina, que tem dedicado seu tempo a uma farmácia comunitária que entrega gratuitamente remédios para 1000 pessoas por mês.

3 - Qual foi a mais marcante das entrevistas?

As entrevistas foram muito marcantes e algumas delas inusitadas. Talvez a mais inusitada tenha sido com a dona Geralda, que foi feita na praia, momentos antes dela saltar de paraquedas, seu primeiro salto de paraquedas aos 71 anos de idade.

4 - No que o idoso pode ainda ajudar para construir pessoas melhores para o futuro?

A pessoa mais velha tem a experiência de vida que pode contribuir muito com a formação dos jovens ou mesmo na vida de um adulto. Acredito que a sabedoria dos mais velhos é algo que só se conquista com o tempo, com a vivência.
Uma das entrevistadas do meu livro, a dona Déa, disse uma frase que exemplifica muito bem isso. Referindo-se aos mais velhos, ela disse que “existe um conhecimento da vida de só aceitar o que é possível, o impossível não desejamos mais. A mocidade deseja o impossível, mas nós, os “velhinhos”, não desejamos o impossível, só queremos o possível. Com isto, nós temos a oportunidade de aproveitarmos a vida com mais tranqüilidade”.

5 - Você resolveu distribuir 100 exemplares do livro para serem lidos e circularem. Conte a razão.

A trajetória mais comum de um livro é que as pessoas comprem, leiam e guardem em suas estantes. Quando decidi colocar 100 livros para circularem, meu objetivo foi de que daqui a cinco, dez anos, essas lições possam continuar circulando, ou seja, daqui a dez anos alguns desses 100 livros ainda estarão vivos, viajando pelo mundo e levando as histórias dos mestres a outras pessoas. Ficaria muito feliz se outros escritores fizessem o mesmo. Podem até colocar menos livros para circulação, mas que reproduzissem essa ideia que eu pretendo colocar em prática toda vez que eu lançar um novo livro.

http://www.mestresdotempo.com.br/


Livro: “Mestres do Tempo Relatos do Século XX Para Viver o Século XXI” (Ed. Gente) - já encontramos nas grandes livrarias.

As fotos são de: Victor Dagonetti (Drago) - O fotógrafo do livro - um jovem que soube captar tão bem as imagens dos idosos e de suas sabedorias.

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