Tuesday, March 16, 2010

Por mais crianças no mundo

Texto de: Rafael Carneiro Rocha

A linguagem sobrenatural dá conta do recado: nas últimas décadas, entre alguns outros furtos, o diabo rouba a nossa fertilidade. Ele adora o medo dos indivíduos e goza diante dos receios da nossa civilização. Temos receio de que mais crianças no mundo implicariam em gastos financeiros insuportáveis numa sociedade determinada pelo consumo de tantas técnicas e produtos.

Temerosos e, desde já, confirmando a estatística de termos apenas um vírgula cinco filho, ou zero vírgula alguma coisa se morássemos em alguns cantos da Europa, escravizamos a nossa vontade perante os mais débeis imperativos da civilização. O fato de sequer cogitarmos ter filhos já demonstra a nossa falta de liberdade ou condicionamento alienante ao estado das coisas.

Filhos dão trabalho. Muito trabalho. Crianças são tão ou mais sujeitas do que nós, adultos, aos perigos da existência. Mas o fato é que uma criança a mais no mundo é um gesto criativo a mais, é uma liberdade de existir a mais, é uma doçura a mais – enfim, é sempre algo a mais, um sentido a mais do qual precisamos. Cito, para meditarmos, o comovente parágrafo final de um artigo de Chesterton, Sobre bebês e distributivismo:

"Agora, uma criança é o próprio sinal e sacramento da liberdade pessoal. A criança é uma doce vontade acrescentada para as vontades do mundo. Livremente concebidas pelos pais que, livremente, escolhem protegê-las. Os pais percebem que o encantamento das crianças é uma criação exclusiva, um nascimento próprio que independe de mestre ou senhor. A criança é uma criação e uma contribuição criativa para toda a criação. Elas são muito mais bonitas, maravilhosas, divertidas e surpreendentes do que qualquer história envelhecida ou sonoridades jazzísticas que saem das máquinas. Quando os homens ignoram esse tipo de encantamento e perdem a apreciação de aspectos primários da existência, todo um senso de proporção sobre o mundo vai embora. As pessoas que preferem prazeres mecânicos estão exauridas e escravizadas. Preferem a própria escória da vida àqueles primeiros mananciais da existência. Preferem as últimas, tortas, indiretas, emprestadas e repetidas coisas da nossa agonizante civilização capitalista, do que o único rejuvenescimento possível da civilização. A velha escravidão é abraçada enquanto se esquece que as crianças são a preparação para o novo mundo."

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