Thursday, May 24, 2012

As grandes mulheres que fizeram história – D. Leopoldina

Ao fazer pesquisas sobre mulheres que fizeram história, percebi que pouco se conta sobre a vida familiar dessas mulheres famosas.

A primeira mulher de D. Pedro I, por exemplo, caiu no esquecimento e ficou mais conhecida como sendo a pobre coitada que morreu de tristeza, depois de tantas desventuras por causa de seu fogoso marido e Imperador do Brasil.

Nas pesquisas, descobri que esta austríaca vinha a ser tia do Imperador da Áustria, marido da famosa Sissi, que teve sua vida protagonizada em três filmes bem conhecidos. Já a nossa imperatriz não teve a mesma sorte de Sissi. Dona Leopoldina, Arquiduquesa da Áustria, irmã de D. José I, veio para o Brasil para casar com o nosso ilustre português, que, fugido das terras altas, governava daqui Portugal e a Colônia que éramos. Chegou até nós, acostumada ao luxo e bons tratos, uma moça de 20 anos, na flor da idade, imagino que tivesse muitos sonhos de princesa que era.

O nome daquela que logo viria a ser a primeira imperatriz do Brasil era Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, como informa o seu biógrafo Carlos H. Oberacker Jr;  o nome "Maria" não se encontra entre os nomes de batismo da Arquiduquesa. Segundo ele, D. Leopoldina passou a usá-lo já em sua viagem para o Brasil, e aqui ela passou a assinar somente Leopoldina, ou utilizando o pré-nome Maria, como pode ser visto no seu Juramento à Constituição do Brasil. Uma outra hipótese também apresentada pelo mesmo autor é que D. Leopoldina teria adotado o Maria por sua grande devoção à Virgem.

Imaginemos então a saga desta jovem muito bem preparada, estudiosa e refinada, sendo formada em botânica, com um nível acadêmico raro entre as mulheres de sua época, mesmo entre as princesas, vindo para o Brasil de 1817, com grandes expectativas de, ao chegar, desfrutar da grande variedade de plantas e minerais que sabia existir aqui. Os noivos só se conheciam por pequenos retratos pintados, que embelezavam o retratado. D. Pedro não teve uma primeira boa impressão da figura de sua prometida, pois D. Leopoldina estava longe de ser bela, embora fosse extremamente bondosa.

Ela trouxe em sua comitiva numerosos cientistas, botânicos e pintores. E, logo na sua chegada, se deparou com uma corte mal trajada, empobrecida pelos maus costumes e pelas inúmeras despesas mal administradas. Contudo, de nada reclamou, ciente das suas obrigações novas como Imperatriz. Aceitou tudo com grande docilidade e amor a seus novos encargos de matriarca da família.

Na sua vida de casada soube amar e respeitar seu marido e tudo o que o cercava. Amou este país como se fosse seu e ajudou na transformação da colônia, tendo sido decisiva sua participação no processo de independência - a carta escrita por ela, estimulando-o o marido a proclamar a independência foi lida por ele e impeliu-o a decidir, dando então o famoso brado "Independência ou morte". Foi coroada imperatriz em 1º de dezembro de 1822, na cerimônia de coroação e sagração de D. Pedro I.

Teve sete filhos e precisou de muita fibra e coragem para aceitar as escancaradas traições de seu marido, bem a seu lado, tendo que engolir a presença da Marquesa de Santos como sua dama de companhia. O autor da mais conceituada biografia de D. Pedro I, Otávio Tarquínio de Souza , afirma que sua doença e morte posterior se deveu a uma agressão do marido, estando ela grávida, por ter protestado veementemente contra aquela vilania que a humilhava (a presença da amante na corte). Ao ser agredida, ficou  registrada sua  indignação: "Bate, bate na imperatriz do Brasil, na arquiduquesa da Áustria, na mãe de teus filhos, na tua esposa!", gritou para o imperador. Passou inúmeras humilhações, com grande dignidade e fortaleza que só uma mulher de fé poderia suportar.

Faleceu em consequência de uma septicemia puerperal, tendo perdido a criança que gestava, enquanto o Imperador se encontrava inspecionando as tropas durante a Guerra da Cisplatina.   O Marquês de Paranaguá, importante assessor de D. Pedro, exprimiu o amor e respeito dos demais cortesões, barrando a entrada da Marquesa de Santos no quarto da imperatriz agonizante.

Foi muito amada pelo povo brasileiro, e todos ficaram muito consternados com seu falecimento precoce aos 29 anos. Mas, mesmo com tão poucos anos de vida, deixou-nos um grande exemplo de dignidade e valores familiares. Morreu no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, bairro na zona norte do Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1826. Hoje seus restos mortais se encontram na Capela Imperial, sob o Monumento do Ipiranga, na cidade de São Paulo.

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