Saturday, January 26, 2013

"Faço mais falta em minha casa do que na Casa Branca" - 1ª parte

Autor: ACEPRENSA
Edición:323
Sección: Coloquio

Os filhos necessitam da presença da mãe em casa para seu melhor desenvolvimento? Será essa afirmação outro tabu, maior do que os outros que vão caindo? Até há pouco se discutia quão necessária é a presença do pai; agora, perguntamos o mesmo com respeito à mãe. Eis aqui uma opinião e decisão pessoal: uma mulher com um alto cargo que pensa que assim é.

Rafael Serrano

Anne-Marie Slaughter, professora de relações internacionais na universidade de Princeton e mulher de convicções feministas, causou comoção com um artigo em que reflete sobre sua experiência em um alto cargo político, do qual se demitiu para atender sua família. Seu ensaio Porque as mulheres ainda não podem ter tudo, publicado na revista The Atlantic (julho-agosto 2012), atingiu, em poucos dias, 725 mil leituras na versão digital. É o texto mais lido na história da revista e mais recomendado no Facebook, mais de 180 vezes.

Slaughter sempre havia desejado trabalhar na política exterior e tinha decidido que, se a oportunidade lhe fosse oferecida,  permaneceria no  posto todo o tempo possível. No princípio de 2009 seu sonho se realizou: foi nomeada diretora de planejamento de políticas no Departamento de Estado; era a primeira mulher que ascendia a esse cargo. Porém, há dois anos se demitiu e voltou a Princeton, porque concluiu que em sua casa, com dois filhos, o maior em plena crise da adolescência, fazia mais falta que na Casa Branca.

COM UM SORRISO DE SUPERIORIDADE
«Eu era uma mulher que respondia com uma sorriso de condescendente superioridade quando outra me dizia que havia decidido deixar o trabalho por um tempo, ou seguir um itinerário profissional menos competitivo para dedicar mais tempo à família», confessa Slaughter. Contudo o trabalho no governo de Obama a fez ver as coisas de outra maneira. «Las crenças feministas em que havia baseado toda a minha carreira cambalearam».

Até então não havia percebido algo «talvez óbvio»: que «ter tudo, ao menos no meu caso, dependia quase por completo do tipo de trabalho que tivesse». Como professora da universidade, se permitia a flexibilidade suficiente para compaginar trabalho e família, porque ali era dona de sua própria agenda: «Podia estar com meus filhos quando fizesse falta, sem que o trabalho ficasse inacabado».
Por outro lado, «ter tudo não é possível em muitos cargos, incluídos os altos cargos no governo, ao menos não por muito tempo». Slaughter havia acreditado que sim, especialmente porque seu marido, também professor universitário, a apoiava e estava disposto a suprir sua ausência, remanejando seu trabalho fora de casa para estar com os filhos.

Agora diz que isso não é suficiente. Porque, «de acordo com minha experiência», é errôneo pensar que «uma mulher ficará tão tranquila estando longe dos filhos se o marido está em casa com eles, como um homem na mesma situação se a esposa permanece em casa com os filhos». E isso, acrescenta, não é só por estereótipos sexuais, senão por um «imperativo amplamente materno ».

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