Já imaginaram mandar os filhos a um lugar diferente nas férias para que ao mesmo tempo, divirtam-se e ajudem a outros menos privilegiados?
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“Sempre entendi o descanso como um afastar-se do acontecer diário, nunca como dias de ócio. Descanso significa represar: acumular forças, ideais, planos... Em poucas palavras: mudar de ocupação, para voltar depois - com novos brios - aos afazeres habituais.” (São Josemaria, ponto 514 de Sulco)
Em agosto do ano passado, estudantes universitários e jovens profissionais conversavam sobre as férias – as passadas e as futuras. Nesse bate-papo, surgiu a idéia de se fazer um trabalho voluntário assistencial. Lembramo-nos do amigo Major Maurício Perdoncini, que estava alocado no 7º Batalhão de Infantaria da Selva, em Boa Vista, no Estado de Roraima. Havia nos comentado, tempos atrás, sobre diversas comunidades, próximas à fronteira com a Venezuela, que viviam em condições muito precárias.
Naquela conversa, essa idéia – ir a Roraima para ajudar uma população carente – parecia ser um sonho. Bonito, mas um pouco distante (para sermos exatos, XXX km nos separavam de Boa Vista). No entanto, propusemo-nos a falar com parentes, amigos e conhecidos sobre essa iniciativa ainda embrionária. Não custava nada tentar. Qual não foi a nossa surpresa ao ver a boa acolhida com que as pessoas recebiam a nossa proposta. Dispunham-se a ajudar. Vimos que era possível. Faltava agora pôr mãos à obra.
Ir a Roraima aj
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Com uma boa dose de otimismo, definimos algumas tarefas para as áreas mais necessitadas:
- medicina: obter remédios e o instrumental básico para as consultas;
- odontologia: duas cadeiras móveis de dentista e medicação; doações de escovas e pastas de dente e material educativo;
- computação: computadores para a escola local (onde estudam mais de 300 alunos e só havia um micro); instalação de internet através de rede wire less;
- construção civil: conseguir material de construção para a reforma da capela, bem como material litúrgico e paramentos.
Havia ainda a logísti
A organização era simples: através de uma lista de e-mails, cada um informava aos outros o que havia obtido na semana. Pedíamos milhagens a professores, remédios doados de um laboratório a um médico vizinho, computadores a empresa de um tio. Também procuramos algumas empresas e o próprio Exército Brasileiro,que nos ajudaram bastante nesse trabalho.
A nossa meta era reunir todo o material e as passagens até o dia 20 de dezembro. No dia 23, circulou o e-mail com a tão esperada mensagem – material obtido: 100%. Agora, era embarcar rumo à Amazônia e trabalhar duro.
A CHEGADA
Entre os dias 1º e 3 de
Nessa viagem de ônibus, começávamos a perceber que estávamos diante de um Brasil muito bonito, exuberante, mais ainda desconhecido para nós. Tínhamos pressa em chegar – muito trabalho esperava por nós – mas parecia que a estrada não acabava. Longas eram essas quatro horas e meia. De certa forma, precisávamos dessa espera, desse tempo de transição, para tomar consciência de que estávamos na Amazônia, em Roraima, no Estado mais isolado do Brasil.
Assim que desembarcamos na escola da vila – ali seria a nossa casa por uma semana – chegaram dois garotos com uma criança menor, que estava com uma intensa febre. Souberam que ali havia médicos e pedia
Desde o início, vinham pedir essa ajuda. Mas não só. Ofereciam ajuda. O agente de saúde se pôs à disposição para nos auxiliar nas refeições. Pessoas muito simples, às vezes descalças, traziam-nos um peixe, verduras para o almoço, um suco de açaí.
Dizia acima que estávamos num Brasil diferente do que conhecíamos – pelo clima, pela flora amazônica, por essa pobreza mais desassistida. Ao mesmo tempo, sabíamos que estávamos no Brasil. Presenciávamos a mesma cordialidade, a abertura incondicional ao outro, a alegria espontânea. Diversos, mais iguais. Não era apenas a língua que nos unia.
Trabalhamos ao todo seis dias, das 8 às 18 horas. Nalguns dias até uma da manhã (precisava-se terminar a tempo a reforma da capela). Cada equipe na sua especialidade. Esse empenho diário resultou em:
- 450 consultas médicas;
- 500 kg de remédios doados;
- a vida de um bebê (a mãe havia entrado em trabalho de parto prematuro em razão de um acidente e o bebê estava apenas com 5 meses de gestação – com a medicação, conseguiu-se reverter a situação);
- 160 consultas odontológicas, com 4 procedimentos em média por pessoa;
- 10 horas de aulas sobre higiene bucal;
- 500 escovas e pastas de dente doadas;
- 6 computadores instalados em rede na escola;
- 30 horas de aula de computação à população;
- reforma da capela (pintura externa e interna, troca do piso interno e externo e do madeiramento do telhado, instalação de ventiladores e manta térmica, troca das portas, instalação da sacristia e do altar.
Além dessas tarefas, enquanto estávamos lá, surgiram outras iniciativas, como, por exemplo, aulas sobre noções básicas de economia.
Fizemos muito? O suficiente? Sinceramente, não sabemos. As necessidades da comunidade da Vila do Trairão são tão vivas e profundas que é difícil quantificar se a nossa ajuda foi grande ou pequena. Não conseguimos, inclusive, realizar tudo o que havíamos previsto. A instalação de internet não foi possível por dificuldades técnicas (nem em Boa Vista havia internet por banda larga). Voltamos às nossas cidades, no entanto, com a certeza de que valeu a pena: nossas férias tinham sido úteis, diferentes, muito melhores do que poderíamos ter imaginado naquela tarde paulista de agosto do ano passado. Havíamos recebido muito mais do que tínhamos dado.
OS: Todos os que fomos agradecemos, juntamente com a comunidade da Vila do Trairão, a tantas pessoas que não foram, mas que, com sua ajuda – sempre generosa, às vezes heróica, possibilitaram a realização dessa iniciativa.
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