Friday, May 28, 2010

As (loucas) mães de famílias numerosas

Por: Maria Teresa Serman

Hoje em dia consideram-se famílias numerosas as que geram mais de três filhos. Para mim, porém, que faço parte do time das "loucas", só dá pra entender "numeroso" por,no mínimo,cinco filhos. Como esta é exatamente a minha experiência - cinco -, vou tentar dar uma pálida idéia deste cotidiano. Prometo omitir os detalhes mais fortes, afinal este é um blog ameno.

Começo por aí mesmo - bom humor. Sem ele como companheiro fiel ninguém vive; mas ao estar cercada de pequenos seres exigentes, sem ele não se sobrevive. Creio piamente que é o melhor instrumento de formação e convivência, na família e fora dela. Lamento se não soube valorizá-lo quando precisei, ao educar meus filhos, pois perdi excelentes oportunidades de fazer, a eles, a meu marido e a mim mais felizes. Agora eu o mantenho à mão o tempo todo, e recomendo seu uso indiscriminado sempre. Use e abuse da alegria e do otimismo, nunca é demais.

Uma visão positiva da vida está na alma de quem se dispõe a melhorar o mundo com vários filhos. Não é determinante o volume de roupa que temos que lavar; o número de fraldas que temos que trocar, e nem o ritmo alucinante de banhar, alimentar, levar e apanhar crianças na escola, inversamente proporcional aquele em que adquirimos os supérfluos que outras famílias colecionam.

É fundamental ter a ordem como mestra e senhora para se conseguir levar avante esse ambicioso projeto. As pessoas gostam de se dar ao direito de nos chamar de loucas, mas somos as mulheres mais sensatas que existem, podem acreditar. Senão já estaríamos internadas e os filhos, no Juizado. Com organização se conseguem o que muitos reconheceriam como "milagres".

Devemos também sempre lembrar que cada filho é uma pessoa individual, e, portanto, merece atenção e afeto personalizados. Aprendi isso com minha avó, que levou uma vida difícil, mas com resultados muito felizes. Teve três filhas, e havia um rodízio das meninas na cozinha, com ela e a empregada, para aprenderem a fazer o básico. Depois desse treinamento, vovó levava a aprendiz para passear e lanchar no centro da cidade - o chique era ir à Colombo, `a Cavé e outras -, com sua atenção exclusiva.

Há muitos detalhes da rotina (acho que esta palavra não se aplica ao caso, contudo não tenho outra melhor) da mãe de família numerosa que podemos relatar em nova ocasião. Por hoje, vou me concentrar em um aspecto cansativamente mencionado - o da "loucura" de ter o número de filhos que o mundo reprova. E assim é, sem dúvida, pois amar com generosidade, como deve ser - senão é outra coisa, não merece ser chamado de amor - é loucura, sim. Nada menos que isso. Não pela contabilidade mesquinha de mais ou menos bebês, e sim por que é preciso enlouquecer aos olhos do mundo para conhecer o verdadeiro amor. Aquele que "tudo suporta", que a tudo transforma, a começar por si mesma.

Se acompanharmos a trajetória de vida de uma mulher que se permitiu enlouquecer de amor, verificaremos que é feliz como poucas, pois só quem vive a insanidade cotidiana do amor descobre a felicidade, que não lhe resiste. Permanece com ela, mesmo na hora da doença, da escassez de meios, até na falta de correspondência a este amor. É esse o verdadeiro alimento da família, mais do que pão e leite sobre a mesa. É com esse amor com que todos sonham, ainda que não saibam, ou não queiram admitir.

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