Por Rafael Carneiro RochaToy Story 3, encerrado na beleza da finitude, grava o significado da arte.
Quando escrevi sobr
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e Up, depois do preâmbulo elogioso que repito para Toy Story 3, afirmei que os filmes da Pixar são narrativas sobre perigos. Os bonecos sempre correm risco de vida, porém nesses animações a morte nunca foi elevada às últimas consequências como ocorre em Toy Story 3.
Em diversas camadas de finitude, Toy Story 3 supera noções frágeis de <
>, comuns até em filmes bons e adultos a que assistimos.
Na apresentação da trama, os brinquedos se afligem com a iminência do abandono. Em seguida, a primeira possibilidade do final feliz lhes é vedada. A creche bonita e acolhedora em que poderiam brincar com crianças se transforma num cenário de pesadelo. O dócil ursinho que recebe os novos integrantes daquela sociedade esconde a sua inclinação totalitária. Assim como na vida em sociedade, qualquer ordem com promessa de paraíso oculta o germe da opressão e do autoritarismo. O filme supera, assim, a noção de finitude como um gozo ad eternum centrado na organização social. Apesar das alegorias implícitas, são cenas bastante divertidas. Na sala de cinema, Gaby, eu e todas as idades divertíamos pra valer com o jeito lúdico do urso e com a afetação do já antológico Ken.
Mesmo nesse núcleo vilanesco, o filme tem personagens fascinantes do ponto de vista dramático. Além do urso com um trauma de abandono no passado, entra também no rol dos grandes personagens da trilogia, o seu escudeiro, um bebê boneco bastante machucado.
Após cenas de prisão de brinquedos e mesmo sugestões de tortura, surge uma espécie de falso clímax, no lixão. Ainda que as imagens sejam um tanto sombrias, o filme cumpre o que se espera dos conhecidos gêneros cinematográficos que lançam os seus personagens à crise para depois fazê-los vitoriosos da morte. Toy Story 3, ainda por cima, é um fi
lme orientado para toda a família e seria insuportável que os brinquedos protagonistas morressem no lixão.
Porém, serão nos momentos seguintes, o verdadeiro clímax do filme, que Toy Story 3 apresentará uma das mais pungentes imagens sobre a beleza da finitude que a câmera cinematográfica já revelou. Quando o dono dos brinquedos, o garoto prestes a se tornar adulto, decide doá-los para uma menininha, ele o faz por brincadeiras. Ele ensina a criança a brincar e, nessas cenas, os bonecos estão inanimados. Nesse estado inanimado (de revelação da finitude, num certo sentido, de morte), a própria câmera é quem despede os bonecos do seu antigo dono. Numa posição de câmera que capta o boneco de costas, sabemos que a imagem revela o inanimado que contempla o homem que parte. Assim, o filme constrói sentido para o inanimado a que assistimos. Eis a beleza da finitude. A arte de Toy Story 3 encontra a verdade sobre a morte, que não significa o abandonar-se nas trevas, mas um partir. Na imagem derradeira, a câmera se eleva ao céu.
Obra-prima.
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